Sou daqui, sou de lá, favela e quilombo
forçado a carregar peso do mundo no ombro
quanto tombo, meu povo se acostuma todo dia?
dificuldade pra sentir um pouco de alegria
te venderam o mundo maravilhoso de Oz
calçada de ouro pra eles cadeia pra nós
a voz fica presa dentro do pulmão
pessoas enlatadas vão pra próxima estação
condução, condição pra onde vão, tá na mão
pra afastar sensação de luta
que se propaga através dos meios
você tem sangue guerreiro não se esqueça de onde veio
temos a mesma cor, o amor em comum
hora de agrupar, chega de ser mais um
somos ponta de lança lá do velho continente
hora de reclamar o que tiraram da gente
parece que sobrou só solidão e dor
além do mar, sou memória e senhor
senhora de cor, aurora de amor
por nós! o brilho do olhar ainda num se apagou
a marca geográfica é tática de ruptura
somos a África muito além de cultura
quero quebrar com as barreiras trazer nossa união
reivindicar tudo que nos faz ser irmão
de coração em coração, apertando cada mão
olhando nos olhos e vendo a própria feição
em si refletido, em mim declarado
vigor tá em quem se junta do mesmo lado
independência ou morte, vê com outro símbolo
não quero criar vínculo preso nessa tragédia
rap meu veículo contraditório ou não
mas eu sei que vim por nós, eu não vim pelos comédia
somos heróis e ninguém prova o contrário
ressignificar o negro no dicionário
forçado a acreditar na cultura brasileira
vocês acharam mesmo que nós tá de brincadeira?
atentaram nossos deuses à perderem sua glória
apagaram da memória e ascenderam meu consumo
algum de nós hoje ainda acredita nessa história
de que somos incapazes de guiar o próprio rumo
destino reconstruindo aquilo que sou
papel, caneta, alma preta e muito amor
vejo reis! me considero um também
o nosso riso intervém a velha forma de desdém
sei pra nós, mano, o quanto é difícil
quem tem a vida toda baseada em sacrifício
um passo do precipício, madrugada é suplício
não largue seus irmão por um mundo fictício